
Os corticoides tópicos são medicamentos amplamente utilizados na dermatologia, não apenas para tratar condições de pele como psoríase, dermatite atópica e eczema, mas também em diversas outras áreas médicas que envolvem inflamação cutânea.
A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) é a principal autoridade regulatória no Brasil, responsável por estabelecer diretrizes que orientam o uso e a pesquisa dos corticoides tópicos no país. Ela atua, por exemplo, na aprovação de estudos clínicos e na fiscalização de dados que comprovem a eficácia e segurança dos medicamentos, em alinhamento com padrões internacionais.
Ao longo deste texto, discutiremos em detalhes as bases regulatórias que norteiam esses estudos clínicos e como o panorama brasileiro tem evoluído com a realização de eventos pioneiros – como o Corticoids Day, promovido pela Synvia, que reuniu especialistas e profissionais da indústria farmacêutica para debater inovações, desafios e oportunidades na área.
O que são corticoides de uso tópico?
Os corticoides são substâncias que mimetizam o efeito do cortisol, um hormônio naturalmente produzido pelo corpo humano. De modo geral, possuem propriedades anti-inflamatórias e imunossupressoras, sendo amplamente utilizados no controle de diversa condições médicas associadas à inflamação.
Quando falamos em medicamentos de uso tópico, referimo-nos especificamente à aplicação direta desses compostos na pele, geralmente em formulações semissólidas como pomadas e cremes. A nível celular, eles penetram na pele e modulam a resposta inflamatória, suprimindo a liberação de mediadores responsáveis por sintomas como inchaço, vermelhidão e coceira.
Regulamentação e Diretrizes: o Papel da Anvisa
Para garantir a segurança e eficácia dos corticoides tópicos comercializados no Brasil, a Anvisa desempenha um papel fundamental na regulamentação desses produtos e na definição dos requisitos para a condução de estudos clínicos.
O desenvolvimento e avaliação desses medicamentos, seja para o registro inicial ou renovação, devem seguir rigorosamente as normas estabelecidas pela Agência. Essas diretrizes asseguram qualidade dos produtos, a proteção dos participantes de pesquisa e a confiabilidade dos resultados obtidos.
Estudos in vivo para medicamentos semissólidos com corticoides
Entre 2022 e 2024, a Anvisa estabeleceu diretrizes mais específicas para o desenvolvimento de formulações semissólidas contendo corticoides, elevando significativamente o padrão regulatório por meio das RDCs 742 e 749.
Antes delas, o registro de medicamentos genéricos e similares de aplicação tópica na pele dependia apenas de estudos laboratoriais para comprovar a equivalência com o medicamento de referência. A partir de então, tornou-se obrigatório realização de estudos também em humanos para garantir a eficácia e segurança desses produtos. Essa prática já era adotada em diversas agências reguladoras internacionais e leva consideração, além das propriedades farmacológicas, o efeito biológico do medicamento na pele.
Os testes in vivo são feitos por meio do estudo farmacodinâmico de branqueamento, também conhecido como estudo de vasoconstrição (VCA).
Regulamentações em destaque:
- Resolução RDC nº 742 (2022)
Define normas para estudos de biodisponibilidade, bioequivalência e farmacocinética. A partir dessa resolução, passou a ser exigido a realização de estudos farmacodinâmicos, como o ensaio de VCA, para avaliar a segurança e eficácia dos corticoides tópicos.
- Instrução Normativa (IN) nº 327 (2024)
Atualiza a RDC nº 742/2022, estabelecendo normas ainda mais detalhadas para garantir padronização e conformidade nos estudos farmacodinâmicos de corticoides tópicos, reforçando a necessidade de metodologias analíticas robustas e criteriosas.
A Vasoconstrição e o Estudo de Branqueamento
Nos estudos clínicos com corticoides tópicos, destacam-se os testes farmacodinâmicos de branqueamento, comumente conhecidos como ensaios de vasoconstrição (VCA).
A vasoconstrição ocorre quando o corticoide provoca o estreitamento dos vasos sanguíneos superficiais, diminuindo temporariamente o fluxo de sanguíneo superficial na área tratada, o que resultada em um efeito de clareamento, também chamado de “branqueamento” (ou “skin blanching”).
A metodologia do ensaio consiste em aplicar o produto na pele de participantes de pesquisa saudáveis e, após um intervalo pré-estabelecido, medir o grau de branqueamento utilizando um equipamento apropriado, como um espectrofotômetro.
Inicialmente, é conduzido um estudo piloto para determinar qual o tempo ideal de exposição do produto na pele. Após essa fase, realiza-se o estudo principal, no qual se compara o medicamento teste com o de referência.
Principais desafios no estudo de branqueamento:
A realização dos estudos de VCA exige uma abordagem extremamente criteriosa em todas as etapas, desde o planejamento até a elaboração do relatório final.
- Seleção criteriosa de participantes
Os critérios de inclusão e exclusão são fundamentais para garantir a homogeneidade do grupo do ensaio. A triagem deve ser minuciosa especialmente ao avaliar o branqueamento e a eficácia real do produto. Esse rigor se reflete na complexidade do protocolo, pois variáveis como fototipo de pele, tatuagens, presença de pelos e uso prévio de medicamentos tópicos podem afetar a resposta ao corticoide.
Um dos principais desafios é a seleção de participantes que atendam a esses critérios. Um exemplo que representa esse desafio é a taxa de exclusão de participantes de pesquisa no processo de seleção, que pode chegar até 95% em estudos de branqueamento, especialmente para seleção em população masculina.
- Padronização na aplicação
A aplicação do medicamento deve ser precedida pela demarcação cuidadosa de áreas específicas (sítios de aplicação) em cada antebraço do participante. A quantidade de produto aplicada precisa ser suficiente para formar uma camada fina e uniforme, evitando excesso.
Durante o tempo de exposição, é necessário evitar o contato direto e a oclusão da área do teste. Além disso, é recomendado que os participantes reduzam as movimentações indesejados dos braços.
A remoção do produto deve ser realizada de forma padronizada, sempre começando pela área (sítio) de menor tempo de exposição.
- Leitura e análise de dados precisas
As leituras são realizadas em três momentos principais: antes da aplicação da formulação (linha de base), no momento da remoção do produto (tempo zero) e em tempos posteriores, a fim de determinar a resposta farmacodinâmica máxima.
Para medir a resposta de branqueamento, é necessário utilizar equipamentos especializados, como o espectrofotômetro. Além disso, o procedimento deve ser realizado sem pressionar ou distorcer a área de aplicação para evitar interferências nos resultados. Nesse contexto, o Synvia AD é um dispositivo articulado desenvolvido pela Synvia, padroniza a leitura dos sítios e envolve recursos de medição automática e algoritmos de análise, reduzindo a possibilidade de erros humanos e contribuindo para uma leitura mais precisa (Imagem 1).
Na etapa estatística, os dados coletados são ajustados pela linha de base, subtraindo-se a média das leituras iniciais. Um segundo ajuste é realizado com base nos chamados “sítios brancos” para minimizar variabilidades. A análise inclui cálculos da área sob a curva e o tempo necessário para atingir metade do efeito máximo de branqueamento (ED50).

Avanços em Pesquisa Clínica com Corticoides Tópicos no Brasil
As recentes atualizações regulatórias não apenas asseguram a qualidade dos medicamentos, mas também fortalecem a posição do Brasil em pesquisas de alta complexidade, alinhando-se às melhores práticas globais e promovendo a inovação no setor farmacêutico.
A crescente necessidade de tratamentos mais eficazes e seguros tem impulsionado a busca por novos produtos e métodos de aplicação tópica. Nesse contexto, cresce a demanda por ensaios clínicos em centro de pesquisa bem estruturados, abrindo oportunidades para a Synvia se destacar neste mercado em expansão.
A Contribuição do Corticoids Day
Um dos grandes marcos recentes para a pesquisa de corticoides tópicos no Brasil foi o Corticoids Day, evento pioneiro realizado pela Synvia, a maior empresa de pesquisa clínica da América Latina, em 20 de fevereiro de 2025. O evento reuniu especialistas, profissionais da indústria farmacêutica, equipes de pesquisa clínica e representantes da Anvisa para discussões aprofundadas sobre o panorama regulatório, o desenho de ensaios, as metodologias analíticas e os desafios associados ao recrutamento de participantes em estudos de VCA.
Confira alguns dos destaques:
- Panorama regulatório com a ANVISA
O evento teve início com um debate sobre os requisitos regulatórios para estudos de corticoides tópicos, com a participação da Agência. A discussão reforçou a importância do alinhamento com padrões internacionais e das exigências da RDC 742/2022, garantindo que os ensaios sigam as melhores práticas globais.
- Desenho e viabilidade dos ensaios
Em seguida, especialistas compartilharam insights sobre a concepção e a condução dos ensaios clínicos, destacando a necessidade de precisão e reprodutibilidade nos resultados. A conformidade com as normativas e a estruturação adequada dos estudos foram pontos-chave abordados.
- Inovação em metodologias analíticas e condução clínica
A tecnologia foi um dos grandes destaques do evento. O uso de dispositivos inovadores, como o Synvia AD e espectrofotômetros, foi apresentado como uma solução para reduzir erros humanos e aumentar a confiabilidade dos dados, garantindo análises mais detalhadas e precisas.
- Os desafios na captação de participantes
A seleção de participantes de pesquisa para esses estudos exige critérios rigorosos, e um dos pontos debatidos foi o alto índice de exclusão. A importância de estratégias eficazes para recrutamento foi enfatizada, considerando os pré-requisitos essenciais para garantir a viabilidade dos estudos.
- Gerenciamento de projetos e análises estatísticas
Por fim, os especialistas destacaram a necessidade de um gerenciamento próximo dos projetos.
Na análise estatística, destacou-se a importância de obter o branqueamento da pele como critério essencial para a inclusão dos dados e a aplicação adequada dos parâmetros estatísticos.
Com o sucesso do Corticoids Day, surgem perspectivas promissoras para futuras pesquisas, desde a implementação de novas tecnologias de medição até a elaboração de protocolos cada vez mais sofisticados de bioequivalência. A tendência é que estudos com corticoides tópicos avancem e contribuam para a geração de dados ainda mais robustos, ampliando o arsenal terapêutico para condições dermatológicas e outras doenças inflamatórias.
Confira os melhores momentos do evento:
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É por meio dessa troca constante de conhecimentos e experiência que impulsionamos o desenvolvimento de medicamentos mais seguros e eficazes, impactando positivamente a saúde de milhares de pessoas no Brasil e no mundo.